terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A sentinela



"A sentinela cochilava encostada ao fuzil. Serviço pau. Um pobre homem dormindo em pé. Acordava, escancarava a boca, via com tédio as grades do jardim, o hall deserto, a escada ao fundo, vermelha. O tapete vermelho da escada me dava impressão desagradável. Podia ser de outra cor. As luzes do farol mudavam de minuto a minuto, branca, vermelha, branca, vermelha. Por que não aparecia uma terceira cor? Aquilo era irritante, mas o farol me atraía. Pelo menos variava mais que a sentinela, tinha mais vida que a sentinela."

Graciliano Ramos (1892-1953). Angústia (1936). 29ª ed. São Paulo: Record, 1984. p. 117

almas de parafusos



"Comovo-me lendo os sofrimentos alheios, penso nas minhas misérias passadas, nas viagens pelas fazendas, no sono curto à beira das estradas ou nos bancos dos jardins. Mas a fome desapareceu, os tormentos são apenas recordações. Onde andariam os outros vagabundos daquele tempo? Naturalmente a fome antiga me enfraqueceu a memória. Lembro-me de vultos bisonhos que se arrastavam como bichos, remoendo pragas. Que fim teriam levado? Mortos nos hospitais, nas cadeias, debaixo dos bondes, nos rolos sangrentos das favelas. Alguns, raros, teriam conseguido, como eu, um emprego público, seriam parafusos insignificantes na máquina do Estado e estariam visitando outras favelas, desajeitados, ignorando tudo, olhando com assombro as pessoas e as coisas. Teriam as suas pequeninas almas de parafusos fazendo voltas num lugar só."

Graciliano Ramos (1892-1953). Angústia (1936). 29ª ed. São Paulo: Record, 1984. p. 118

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um jovem escritor



"Quando eu era jovem, era um escritor que passava fome. O fato de que a fome poderia me levar à morte não me incomodava muito, uma vez que a vida não me parecia interessante, e morrer não parecia uma má perspectiva — talvez uma nova embaralhada nas cartas? Laborei, de tempos em tempos, como um trabalhador comum, mas por curtos períodos. Um ou dois contracheques e eu pulava fora, mantendo-me afastado de empregos o quanto fosse possível. Tudo o que eu precisava era de dinheiro para o aluguel e para comprar bebidas, e também para os selos, os envelopes e uma máquina de escrever. Escrevia de dois a seis contos por semana e todos eram recusados pela Atlantic Monthly, Harper's e The New Yorker. Para mim isso era difícil de entender porque os contos que eu lia nessas revistas eram escritos com cuidado, 'bem-trabalhados' talvez fosse o termo. Mas, em essência, os contos era inermes e chatos, e o pior de tudo: não tinham humor. Era como se tudo não passasse de uma mentira e quanto mais trabalhada fosse essa mentira mais você era aceito."

Charles Bukowski (1920-1994). Pedaços de um caderno manchado de vinho. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 274

abandonar tudo



"A porta escancarada convidava-me a abandonar tudo, a sair sem destino — um, dois, um dois — e não parar tão cedo. Nenhum sargento me mandaria fazer meia-volta. Os meus passos me levariam para oeste, e à medida que me embrenhasse no interior, perderia as peias que me impuseram, como a um cavalo que aprende a trotar. Tornar-me-ia de novo meio cigano, meio selvagem, andaria numa corrida vagabunda pelas fazendas sertanejas, ouviria as cantigas dos cantadores e as conversas das velhas nas fontes, veria à beira dos caminhos estreitos pequenas cruzes de madeira, as mesmas que vi há muitos anos, enfeitadas de flores secas e fitas desbotadas. Indicaria uma delas, estirando o beiço. Quem teria morrido ali? E alguém me informaria, repetindo as histórias dos cantadores e as conversas das velhas nas fontes: — 'Um sujeito que namorou a noiva de outro'."

Graciliano Ramos (1892-1953). Angústia (1936). 29ª ed. São Paulo: Record, 1984. p. 80

Seguros



"a casa dos vizinhos me deixa
triste.
ambos marido e mulher acordam cedo e
vão ao trabalho.
chegam em casa no início da noite.
têm um pequeno menino e uma menina.
pelas 21h todas as luzes na casa
se apagam.
na manhã seguinte ambos marido e
mulher acordam cedo de novo e vão ao
trabalho.
retornam no início da noite.
pelas 21h todas as luzes se
apagam.

a casa dos vizinhos me deixa
triste.
as pessoas são boas pessoas, eu
gosto deles.

mas sinto que estão se afogando.
e não posso salvá-los.

eles sobrevivem.
eles não são
sem-teto.

mas o preço é
terrível.

às vezes durante o dia
eu olho para a casa
e a casa olha para
mim
e a casa
chora, sim, é verdade, eu
sinto isso.

a casa está triste pelas pessoas que ali
moram
e eu também
e olhamos um para o outro
e carros passam pra lá e pra cá
na rua,
barcos atravessam o porto
e as altas palmeiras cutucam
o céu
e esta noite às 21h
as luzes se apagarão,
e não somente naquela
casa
e não somente nesta
cidade.
vidas seguras escondem,
quase
paradas,
a respiração dos
corpos e pouco
mais."

Charles Bukowski (1920-1994). Seguros. In: The pleasures of the damned (tradução de Zaratustra)

domingo, 26 de janeiro de 2014

Hollywood



"Eu morava num conjunto de casas populares na Carlton Way, perto da Western. Tinha cinquenta e oito anos e ainda tentava ser escritor profissional e vencer na vida apenas com a máquina de escrever. Iniciara esse curioso meio de vida aos cinquenta anos. Mas não se pode viver sempre escrevendo, e havia muito espaço a preencher. Eu o preenchia com uísque, cerveja e mulheres. Acabei me enchendo da maioria das mulheres e me concentrei no uísque e na cerveja."

Charles Bukowski (1920-1994). Hollywood (1989). Porto Alegre: L&PM, 2012. p. 7

Angústia



"Penso no meu cadáver, magríssimo, com os dentes arreganhados, os olhos como duas jabuticabas sem casca, os dedos pretos do cigarro cruzados no peito fundo.

Os conhecidos dirão que eu era um bom tipo e conduzirão para o cemitério, num caixão barato, a minha carcaça meio bichada. Enquanto pegarem e soltarem as alças, revezando-se no mister piedoso e cacete de carregar defunto pobre, procurarão saber quem será o meu substituto na Diretoria da Fazenda."

Graciliano Ramos (1892-1953). Angústia (1936). 29ª ed. São Paulo: Record, 1984. p. 9

Mortos



"Estamos cercados pelos mortos que ocupam posições de poder porque, de maneira a obter esse poder, é necessário que morram. Os mortos são fáceis de encontrar — estão por toda a parte à nossa volta; a dificuldade está em achar os que estão vivos. Repare na primeira pessoa com quem cruzar na calçada lá fora — os olhos já não guardam qualquer cor; o modo de caminhar é brutal, desajeitado, feio; mesmo os cabelos parecem brotar de maneira doentia. Há ainda outros tantos sinais de morte: um deles é uma sensação de radiação, os mortos emitem verdadeiros raios, o fedor de suas almas, que podem arruinar o nosso apetite para o almoço caso o contato dure muito tempo."

Charles Bukowski (1920-1994). Pedaços de um caderno manchado de vinho. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 74

domingo, 19 de janeiro de 2014

Seja gentil



"sempre nos é pedido
que entendamos os pontos de vista das
outras pessoas
não importa o quão
ultrapassado
tolo ou
odioso.

exige-se de alguém
que encare
os erros totais dos outros
o desperdício de suas vidas
com
gentileza,
especialmente se eles já forem
velhos.

mas a idade é a soma de
nossos atos.
eles envelheceram
sem dignidade
porque
viveram
desfocados,
recusaram-se a enxergar.

e não por culpa deles?

então de quem é a culpa?
minha?

pedem-me para esconder
dessas pessoas
meu ponto de vista
por medo do medo
delas.

envelhecer não é nenhum crime.

mas a vergonha
de uma vida
deliberadamente
desperdiçada
entre tantas outras
vidas
deliberadamente
desperdiçadas

é."

Charles Bukowski (1920-1994). "Seja gentil"

Moments of crisis



"The book fell open somewhere in the middle, and I saw that one of the sentences had been underlined faintly in pencil. 'Les moments de crise produisent un redoublement de vie chez les hommes.' Moments of crisis produce a redoubled vitality in men. Or, more succinctly perhaps: Men don't begin to live fully until their backs are against the wall."

Paul Auster (1947-). The Book of Illusions (2002). London: faber and faber, p. 238

Ser humano


"Ser humano não deveria ser um ideal para o homem que é fatalmente humano, ser humano tem que ser o modo como eu, coisa viva, obedecendo por liberdade ao caminho do que é vivo, sou humana. E não preciso cuidar sequer de minha alma, ela cuidará fatalmente de mim, e não tenho que fazer para mim mesma uma alma: tenho apenas que escolher viver. Somos livres, e este é o inferno."

Clarice Lispector. A paixão segundo G.H. (1964). Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. p. 128

Os dragões não permanecem



"Os dragões não permanecem. Os dragões são apenas a anunciação de si próprios. Eles se ensaiam eternamente, jamais estreiam. As cortinas não chegam a se abrir para que entrem em cena. Eles se esboçam e se esfumam no ar, não se definem. O aplauso seria insuportável para eles: a confirmação de que sua inadequação é compreendida e aceita e admirada, e portanto — pelo avesso igual ao direito — incompreendida, rejeitada, desprezada. Os dragões não querem ser aceitos. Eles fogem do paraíso, esse paraíso que nós, as pessoas banais, inventamos (...). Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia."

Caio Fernando Abreu (1948-1996)

aquele homem vivia



"Quanto mais Kristóf ficava adulto, menos compreendia o 'segredo' do padre Norbert: seu sorriso, seu equilíbrio, o modo como sabia ficar feliz com a vida sem ter motivo específico para tanto... Não tinha família, vivia na pobreza, cumpria os regulamentos ascéticos da ordem, era mais pobre, ou, mais precisamente, desprovido de posses que o homem mais pobre que Kristóf já conhecera: algumas roupas, alguns livros, esses eram todos os bens materiais que possuía. Não frequentava a sociedade, não assumia papéis combativos ou de missionário que quer converter; vivia e atuava no seu círculo fechado, silencioso, anônimo e despercebido. Mas os que ficavam próximos a ele percebiam: aquele homem vivia."

Sándor Márai (1900-1989). Divórcio em Buda (1935). São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 43-4 (traduzido do húngaro por Ladislao Szabo)

sábado, 11 de janeiro de 2014

The Book of Illusions



"The man lived in a domain of mute inwardness, of unending resistance against the world, and he seemed to float through his days with no other purpose than to use up the hours as painlessly as possible. He never lost his temper, he seldom cracked a smile. He was fair-minded and detached, absent even when present, and he showed no more compassion or sympathy for himself than he did for anyone else."

Paul Auster. The Book of Illusions (2002). London: faber and faber, p. 155

I live without a future



"Never more lost than now, never more alone and afraid — yet never more alive. (...) I talk only to the dead now. They are the only ones I trust, the only ones who understand me. Like them, I live without a future."

Paul Auster. The Book of Illusions (2002). London: faber and faber, p. 147-8

Então aceito o pior



"Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. Mas sei que terei paz antes da morte e que experimentarei um dia o delicado da vida. Perceberei — assim como se come e se vive o gosto da comida. Minha voz cai no abismo de teu silêncio. Tu me lês em silêncio. Mas nesse ilimitado campo mudo desdobro as asas, livre para viver. Então aceito o pior e entro no âmago da morte e para isto estou viva. O âmago sensível."

Clarice Lispector. Água Viva (1973), p. 61

Alegria



"A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida — e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom — como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar-se inundar pela alegria aos poucos — pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós."

Clarice Lispector (1920-1977). A descoberta do mundo (crônicas, 1967-1973). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 227

Por enquanto eu te prendo



"Por enquanto estou inventando a tua presença, como um dia também não saberei me arriscar a morrer sozinha, morrer é do maior risco, não saberei passar para a morte e pôr o primeiro pé na primeira ausência de mim — também nessa hora última e tão primeira inventarei a tua presença desconhecida e contigo começarei a morrer até poder aprender sozinha a não existir, e então eu te libertarei. Por enquanto eu te prendo, e tua vida desconhecida e quente está sendo a minha única íntima organização, eu que sem a tua mão me sentiria agora solta no tamanho enorme que descobri." (p. 23)
................................................
"Quanto eu devia ter vivido presa para sentir-me agora mais livre somente por não recear mais a falta de estética... Ainda não pressinto o que mais terei ganho. Aos poucos, quem sabe, irei percebendo. Por enquanto o primeiro prazer tímido que estou tendo é o de constatar que perdi o medo do feio. E essa perda é de uma tal bondade. É uma doçura." (p. 24-5)

Clarice Lispector. A paixão segundo G.H. (1964). Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990

Hector, call me please!



"My father had just been through a divorce. He was thirty-five, going on thirty-six, and he still hadn't made it into the top echelon of Hollywood DP's. After fifteen years in the business, he was working on B pictures — when he had work at all. Westerns, Boston Blackie movies, kid's serials. He had immense talent, Charlie did, but he was a quiet person, someone who never appeared to be very comfortable with himself, and people often mistook that shyness for arrogance. He kept losing out on the good jobs, and after a while it started to get to him, to eat away at his confidence. When his first wife left him, he went to hell for a few months. Drinking too much, feeling sorry for himself, not keeping up with his work. And that's when Hector called — just when he was down in that hole."

Paul Auster. The Book of Illusions (2002). London: faber and faber, p. 211

Nunca mais


"Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer."

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), poetisa portuguesa

Fonte: Revista Bula

sábado, 4 de janeiro de 2014

Tempo



"A linguagem da escrita de um homem vem de onde ele vive e de como vive. Fui um vagabundo e um trabalhador comum por quase toda a minha vida. As conversas que eu ouvia passavam longe da erudição. E nos meus anos de vida tive muito pouco contato com pessoas ricas. Eu estava enfiado em poços fétidos. Era um pouco louco, mas era um tipo incomum de loucura porque eu a cultivava. Permitia que minha mente ficasse andando em círculos, para morder seu próprio rabo. Eu atiçava meus instintos, alimentava meus preconceitos. A solidão era meu ás de espadas, precisava dela para engrandecer minha realidade. Eu valorizava de verdade o ócio, era viciante. Estar sozinho comigo mesmo era o santuário. Certa vez numa cidade descobri um cemitério abandonado e lá eu dormia ressacado, com o sol a pino. Em outra cidade, ficava sentado horas a fio olhando para um canal sujo e fedorento, sem pensar realmente em nada. Eu precisava de horas, dias, semanas, anos para mim mesmo. Descobri todo tipo de tugúrio enquanto passava fome. Tinha a habilidade de fazer com que um pouco de dinheiro durasse muito. Sacrificava qualquer coisa em nome do tempo. E para ficar fora das tendências."

Charles Bukowski (1920-1994). Pedaços de um caderno manchado de vinho. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 326

minha primeira casa



"Assim, lá estava eu, com mais de 65 anos, procurando minha primeira casa. Lembro-me de que meu pai praticamente hipotecou sua vida inteira para comprar uma casa. Ele me disse: ‘Escute, eu vou pagar a vida inteira por uma casa, e quando eu morrer você ficará com essa casa, e durante a vida inteira você pagará por uma casa, e quando morrer deixará duas casas pra seu filho. Com isso são duas casas. Depois seu filho...’

Todo esse processo me parecia terrivelmente lento: casa por casa, morte por morte. Dez gerações, dez casas. Depois, bastaria uma só pessoa para perder todas elas no jogo ou queimar tudo com um fósforo e sair correndo pela rua abaixo com os bagos num balde de colher fruta".

Charles Bukowski (1920-1994). Hollywood (1989)

Ideologias



"Para Marx, as classes dirigentes da sociedade são amplamente responsáveis pela disseminação das crenças ideológicas, o que explica por que, nas sociedades em que uma classe proprietária de terras controla o poder, o conceito de nobreza inerente à posse de terras é tomado como certo pela maior parte da população (mesmo por muitos daqueles que fracassam nesse sistema), enquanto nas sociedades mercantis são as realizações dos empresários que dominam a visão que os cidadãos têm do sucesso. (...)

Mas essas ideias nunca seriam estabelecidas se parecessem dominar pela força. As declarações ideológicas são tais que, a menos que nosso senso político seja desenvolvido, não conseguiremos reconhecê-las. A ideologia é liberada na sociedade como um gás incolor e inodoro. Está incrustada em jornais, anúncios publicitários, programas de televisão e livros didáticos – onde ela, talvez ilógica ou injustamente, disfarça sua visão parcial de mundo e insinua mansamente que está apenas declarando antigas verdades das quais só um idiota ou um louco discordaria."

Alain de Botton (1969-). Desejo de status. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 201

Arte e status



"De modo atrativo e sub-reptício, com humor ou seriedade, as obras de arte — romances, poemas, peças, pinturas ou filmes — podem funcionar como veículos para nos explicar a nossa condição. Podem agir como guias para uma compreensão mais verdadeira, mais judiciosa e mais inteligente do mundo.

Dado que poucas coisas precisam de tanto criticismo (ou insight e análise) quanto a maneira como lidamos com o status e a sua distribuição, não é nenhuma surpresa encontrar na história tantos artistas criando obras que de certa forma contestam os métodos pelos quais as pessoas são classificadas na sociedade. A história da arte está cheia de questionamentos — irônicos, raivosos, líricos, tristes ou divertidos — ao sistema de status."

Alain de Botton (1969-). Desejo de status. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 126

Imagem: cena do filme O discreto charme da burguesia (França, 1972), de Luis Buñuel