segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Feliz por nada (II)


"De ferramentas tecnológicas, qualquer um pode dispor, mas a cereja do bolo chama-se conteúdo. É o que todos buscam freneticamente: vossa majestade, o conteúdo.

Mas onde ele se esconde?

Dentro das pessoas. De algumas delas.

Fico me perguntando como é que vai ser daqui a um tempo, caso não se mantenha o já parco vínculo familiar com a literatura, caso não se dê mais valor a uma educação cultural, caso todos sigam se comunicando com abreviaturas e sem conseguir concluir um raciocínio. De geração para geração, diminui-se o acesso ao conhecimento histórico, artístico e filosófico. A overdose de informação faz parecer que sabemos tudo, o que é uma ilusão, sabemos muito pouco, e nossos filhos saberão menos ainda. Quem irá optar por ser professor não tendo local decente para trabalhar, nem salário condizente com o ofício, nem respeito suficiente por parte dos alunos? Os minimamente qualificados irão ganhar a vida de alguma forma que não numa sala de aula. E sem uma orientação pedagógica de nível e sem informação de categoria, que realmente embase a formação de um ser humano, só o que restará é a vulgaridade e a superficialidade, que já reinam, aliás." (p. 149)
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"A paz que tanto procuramos não está na previsibilidade e na constância, e sim no reconhecimento de que ambas inexistem: nada é previsível nem constante. E isso enlouquece a maioria das pessoas. Quer dizer que não temos poder nenhum? Pois é, nenhum.

É um choque. Mas o segredo está em acostumar-se com a ideia. Só então é que se consegue relaxar e se divertir.

Ou seja, a pessoa de mente saudável é aquela que, sabedora da sua impotência contra as adversidades, não as camufla, e sim as enfrenta, assume a dor que sente, sofre e se reconstrói, e assim ganha experiência para novos embates, sentindo-se protegida apenas pela consciência que tem de si mesma e do que a cerca - o universo todo, incerto e mágico." (p. 148)
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"É o desejo que manda. Esse troço que você tem aí dentro da cachola, essa massa cinzenta, parecendo um quebra-cabeças, ela só lhe distrai daquilo que realmente interessa: o seu desejo. O rei, o soberano, o infalível, é ele, o desejo. Você pode silenciá-lo à força, pode até matá-lo, caso não tenha forças para enfrentá-lo, mas vai sobrar o que de você? Vai restar sua carcaça, seu zumbi, seu avatar caminhando pelas ruas desertas de uma cidade qualquer. Você tem coragem de desprezar a essência do que faz você existir de fato?". (p. 140)

Martha Medeiros. Feliz por nada. Porto Alegre: L&PM, 2012

domingo, 27 de janeiro de 2013

Infinite Jest


Cenário: uma clínica para tratamento de viciados em drogas

"Eu sinto muito mesmo incomodar. Eu posso voltar depois. Eu estava pensando se de repente não tem alguma oração especial do Programa pra quando você quer se enforcar."

(...)

"Ótimo, ótimo. Ótimo. Perfeito. Sem nenhum problema. Feliz de estar aqui. Melhorzinho. Dormindo melhor. Adoro o rango. Numa palavra, não podia estar melhor. Os dentes? Isso de ranger os dentes? Tique. Deixa a mandíbula mais forte. Uma manifestação do meu bem-estar geral. A mesma coisa com isso da pálpebra."

(...)

“Desculpa se eu estou incomodando você por uma coisa que não é um negócio assim direto de interface de tratamento e tal. Eu estou lá em cima tentando fazer a minha Tarefa Doméstica. Eu estou com o banheiro masculino do primeiro andar. Tem um negócio… Pat, tem um negócio na privada lá em cima. Que não vai com a descarga. O negócio. Não vai embora. Fica voltando. Por mais que eu dê descarga. Eu só estou aqui pra saber o que fazer. De repente também um equipamentinho de proteção. Eu não consigo nem descrever esse negócio lá da privada. Eu só posso te dizer que se aquilo foi gerado por alguma coisa humana, aí eu tenho que te dizer que eu estou é com medo. Nem me peça pra descrever. Se você quiser subir e dar uma olhada, eu tenho 100% de certeza que ainda está lá. O negócio deixou bem claro que não pretende sair dali.”

Trechos de "Infinite Jest", de David Foster Wallace (1962-2008), em tradução por Caetano Galindo, para a Companhia das Letras (citados pelo tradutor em sua coluna no blog da editora: Em tradução)

Feliz por nada


"Minhas duas últimas viagens ao exterior foram feitas sem máquina fotográfica ou celular na bagagem. Fui e voltei sem uma única foto, o que para muitos talvez signifique 'ela não foi'. Mas fui. A vida também acontece sem provas documentais." (p. 32)
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"Eu desconfio muito de quem não valoriza o seu ócio predileto e acaba virando gângster de si mesmo. Até podem ganhar prêmios com sua dedicação inumana, mas perdem todo o sabor da vida. São profissionais competentes, por um lado, mas incompetentes por não reconhecerem a importância de alcançar uma certa vadiagem responsável, que é como eu chamo o 'trabalhar sem se matar'.

(...) Woody Allen aconselha todo mundo a trabalhar, claro, mas recomenda que se divirtam com o processo, que não deem bola para o que os outros dizem e que, por mais gratificante que seja ganhar dinheiro, não se deixem levar por ilusões de grandeza. Menos vaidade, mais prazer." (p. 40-1)
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 "...um dos sintomas do amadurecimento é justamente o resgate da nossa jovialidade, só que não a jovialidade do corpo, que isso só se consegue até certo ponto, mas a jovialidade do espírito, tão mais prioritária. Você é adulto mesmo? Então pare de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar lógica pra tudo, pare de contabilizar prós e contras, pare de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido controle. Simplesmente, divirta-se.

(...) A aventura do não domínio. Permitir-se o erro. Não se sacrificar em demasia, já que estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada? Mil vezes curtir a travessia." (p. 52-3)

Martha Medeiros. Feliz por nada. Porto Alegre: L&PM, 2012

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Os aventureiros do absoluto



Tsvetaeva recusa sem hesitar o dualismo da arte e da vida. No entanto, mesmo que superando essa separação, opõe céu e terra, interior e exterior, ser e existir, imortalidade e vida – dualismo bem mais antigo, já que provém não da revolução romântica, mas daquela dos monoteístas, que opõem o Deus infinito ao mundo finito. Embaixo, portanto, a existência cotidiana (byt) odiosa, pois consagrada à simples sobrevivência: dia após dia, devemos, por nós e pelos outros (sobretudo quando se é mulher e mãe), nos levantar, procurar água para beber, alimento para comer, lenha para se aquecer, devemos passear com os filhos, dar-lhes banho, cuidar deles quando ficam doentes. Tudo isso é a “materialidade não transfigurada”, um rochedo que é preciso recomeçar a escalar todos os dias. É o que os outros chamam de vida. Portanto, Tsvetaeva não ama a vida nesse sentido restrito da palavra, não tem êxito nesse tipo de vida. “Não amo a vida terrestre, jamais a amei.” “Não sei viver aqui embaixo.” “Não posso viver, isto é, durar, eu não sei viver os dias, cada dia.”

Na falta de habitar essa vida, Tsvetaeva se refugia em outra, preferindo o interior ao exterior, o ser, à existência, o céu, à terra. “Amo o céu e os anjos: lá em cima e com eles eu saberia como proceder.” No outro mundo, no alto, ela atingirá o júbilo; no reino da Alma ela será a primeira, no juízo final do verbo, a justiça lhe será feita. Esse outro mundo, mais concretamente, se chama vida interior, ou ainda alma. Tsvetaeva tem que se resignar a ater-se a ele: habitá-lo é sua “doença incurável”. (...) “Ela não existe, a vida que teria suportado minha presença.” Mais exatamente, é da própria impossibilidade de viver feliz nessa vida que Tsvetaeva deduz a necessidade de uma realidade superior: “A vida me acua cada vez mais (profundamente) para o interior. (...) Viver não me dá prazer e essa rejeição me faz concluir muito claramente que outra coisa existe no mundo. (Manifestamente, a imortalidade)”.

Tzvetan Todorov. A Beleza salvará o Mundo (Wilde, Rilke e Tsvetaeva: os aventureiros do absoluto). Rio de Janeiro: Difel, 2011. p. 193-4

sábado, 19 de janeiro de 2013

velhos sonhos de infância


"O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se... e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo tão sozinho àquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!"

Mario Quintana (1906-1994)

Fonte: Jornal da Poesia

Família


"No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha - com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e escolhera.

Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto - ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido."

Clarice Lispector. Laços de família (1960). 24ª ed. Rio de janeiro: Francisco Alves, 1993. p. 30-1

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

The boy in the suitcase



"In the old Vesterbro apartment buildings on the other side of the street, she could see into the still-lit kitchens. On the ground floor, a young man was making coffee in a bistro coffeepot, calling back his half of a conversation to someone behind him. He put the coffeepot on a tray with a collection of cups and turned away from the window with a smile on his face. Nina couldn’t help wondering if the lives of other people were really as simple as they looked. As simple, and as happy.

Probably not, she thought drily. It was a distortion of a kind she was an expert at providing for herself, or so her therapist had informed her. She was always busy telling herself that she was the only one who didn’t fit in, while everyone else was one big happy community. And she was also an expert at making herself believe that she was the only one who could save the world an put things right, while others were too busy buying flat-screen televisions and redecorating their kitchens and making bistro coffee and being happy."

Lene Kaaberbøl & Agnete Friis. The boy in the suitcase. Soho Crime, 2011, p. 164 

Given the title, this you expect: A suitcase pulled out of a locker at the Copenhagen train station contains a 3-year-old boy. This you don’t: He’s alive. With that single detail what might have been a mere homicide morphs into a more bizarre puzzle. Holding the bag, as it were, is Nina Borg, a Red Cross nurse and the star of the best-selling Danish crime series of which this is the first book. She’s afraid of what will happen to the boy if she turns him over to the authorities, and soon enough she finds the beaten body of the friend who’d given her the locker’s key without explanation. Adding to her confusion, she doesn’t speak the boy’s language. In the city’s red-light district, where many nationalities gather, Nina finds a language match — Lithuanian — and a kind prostitute to act as translator. At the same time the boy’s mother discovers that he was kidnapped for the same man who had adopted her first-born. “He collects my children, she thought, with a chill of horror.

The NewYork Times
By Susannah Meadows
Published: November 16, 2011

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sócio do ócio



"doce ociosidade
sacia minha sede de ser assim
largado no mundo caído na vida
terra mãe luz da manhã

doce sociedade ociosa sempre no cio
já aboliram a escravatura
pendure sua rede mate sua sede
de se espreguiçar

de volta ao princípio
onde o que come é comido
cru ou cozido
vou te devorar

viva nossa carne mortal
de partículas imortais
para pulsar
filhos do sol

até que se cumpra
nosso destino cósmico
sou sócio do ócio
eu sou"

Chacal (1951-)

Decisão



"Lembro dele e fico triste, mas a gente já nem se visitava muito, sabe? Ele tava bem estragado. Mas era um cara com um coração bom. Depois que ele se matou acho que isso ficou mais claro. Ele foi bom pra todo mundo do jeito torto dele. Nunca nos deixou faltar nada, se tu pensa bem. Lembro dele segurando minha nuca e dando conselhos. Ele pegava forte pela nuca e começava a dar a real. O pai sempre sabia o que tava fazendo. Decidia rápido e não voltava atrás. Ele tomou uma decisão."

Daniel Galera. Barba ensopada de sangue (2012). Cia das Letras, p. 408

aurora boreal


"Os planos todos dispersos
os primeiros estranhamentos com o filho,
mecânico e pesado o coração destila
uma coleção de remorsos.
Fecho os olhos de horror e eis que
das obscuras raízes
do centro de minha fronte
das rendas negras da carne
esplêndida e cintilante
desponta
a aurora boreal"

Antonio Carlos de Brito (1944-1987). In: Heloisa Buarque de Hollanda (org.). 26 poetas hoje, p. 46

Às vezes é preciso abandonar o barco


"Às vezes é preciso abandonar o barco,
A luta, o carrossel, o circo inteiro,
E partir como ave migratória para o norte
Em busca de terras de verão e sol,
Mas quando isto for preciso
Que se faça com rosto limpo,
A face descoberta e voltada para a frente,
Que não haja mentiras nem tristeza.
Queimem-se as lembranças, quebrem-se
As garrafas; enterrem-se cinzas e cacos.
Seja-se até os ossos mais frágeis
Uma ave migratória: a volta existe
Mas é outra história, e não desculpa
A permanência no ponto de partida."

Flávio Aguiar. In: Heloisa Buarque de Hollanda (org.). 26 poetas hoje (1ª ed.: 1975), p. 138

Dias de amarrar barbante ao redor do nada


"Hoje acordei bem prático, sofístico,
sem pudores de lógica e moral,
fechado em mim, feito uma ostra, um dístico
ou uma pedra (mas não filosofal).
Devia haver mais dias como este,
livres de compromissos com dois mil
anos de ocidentalismo, a nordeste,
a sul, a sotavento do Brasil
ou do que quer que seja. Simplesmente
ser, sim, mas contingência pura, só,
nada que deixe um rastro ou excedente
em sangue, fezes, páginas ou pó.
Dias de amarrar barbante ao redor
do nada, e capturar um deus menor."

Paulo Henriques Britto. De 'Cinco sonetos frívolos'. In: 'Formas do nada'

Tudo se perde


"Tudo se perde, nada se aproveita,
eu sei. Porém a impressão permanece:
alguma (pouca) coisa que foi feita
pode talvez merecer uma espécie
de não exatamente eternidade,
mas mais que o imediato esquecimento.
Será ilusão? Será pura vaidade?
Bem provável. Sendo assim, me contento
com o vago prazer (se é mesmo prazer)
de rabiscar num caderno, ao acaso,
o que talvez jamais venha a ser lido
por mais ninguém. Nem por mim. Escrever
é preciso. Por quê? Não vem ao caso.
E faz sentido? Não. Não faz sentido."

Paulo Henriques Britto. 'Formas do nada'

Nada disso foi do jeito que eu quis


"Nada disso foi do jeito que eu quis.
Se fosse como eu quis, não haveria
de ser tão sofrido, tão infeliz.
Mas eu – o eu que sou – eu não seria.

Assim, não me lamento. Até me sinto
como quem tem não o que foi pedido,
e sim o que, guiado pelo instinto,
não pelo querer, teria querido.

O que de mais duro a vida me deu
– que dura mais quanto mais me custou
dele me acostar, e torná-lo meu –

o que não escolhi, mas me escolheu,
é o que, ao fim e ao cabo, mais eu sou.
Não é o eu que eu me quis. Mas sou eu."

Paulo Henriques Britto (1951-). In: Estadão. Revista Piauí - edição 65 (fevereiro de 2012)

Então viver é isso


"Então viver é isso,
é essa obrigação de ser feliz
a todo custo, mesmo que doa,
de amar alguma coisa, qualquer coisa,
uma causa, um corpo, o papel
em que se escreve,
a mão, a caneta até,
amar até a negação de amar,
mesmo que doa,
então viver é só
esse compromisso com a coisa,
esse contrato, esse cálculo
exato e preciso, esse vício,
só isso."

Paulo Henriques Britto (1951-). Liturgia da matéria (1982)

Noite após noite


"Noite após noite, exaustos, lado a lado,
digerindo o dia, além das palavras
e aquém do sono, nos simplificamos,

despidos de projetos e passados,
fartos de voz e verticalidade,
contentes de ser só corpos na cama;

e o mais das vezes, antes do mergulho
na morte corriqueira e provisória
de uma dormida, nos satisfazemos

em constatar, com uma ponta de orgulho,
a cotidiana e mínima vitória:
mais uma noite a dois, e um dia a menos.

E cada mundo apaga seus contornos
no aconchego de um outro corpo morno."

Paulo Henriques Britto (1951-). Macau (2003)