sexta-feira, 29 de junho de 2012

The Schopenhauer Cure

"For me, there is comfort in the idea that my death informs my life." Philip spoke with uncharacteristic fervor as he continued, "There is comfort in the idea of not allowing my core being to be devoured by trivialities, by insignificant successes or failures, by what I possess, by concerns about popularity - who likes me, who doesn't. For me, there is comfort in the state of remaining free to appreciate the miracle of being." p. 264

(...)

"One of Schopenhauer's formulations that helped me," said Philip, "was the idea that relative happiness stems from three sources: what one is, what one has, and what one represents in the eyes of others. He urges that we focus only on the first and do not bank on the second and third - on having and our reputation - because we have no control over those two; they can, and will, be taken away from us - just as your inevitable aging is taking away your beauty. In fact, 'having' has a reverse factor, he said - What we have often starts to have us." p. 272

Irvin D. Yalom, The Schopenhauer Cure, Harper Perennial, 2006.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Popularity


Philip, not distracted from gazing at his favorite spot somewhere on the ceiling, answered quickly, "Schopenhauer said that a highly attractive women, like a highly intelligent man, was absolutely destined to living an isolated life. He pointed out that others are blind with envy and resent the superior person. For that reason, such people never have close friends of their same sex."

"That's not necessarily true," said Bonnie. "I'm thinking of Pam, our missing member, who is beautiful too and yet has a large number of  close girlfriends."

"Yeah, Philip," said Tony, "you saying that, to be popular, you have to be dumb or ugly?"

"Precisely," said Philip, "and the wise person will not spend his life or her life pursuing popularity. Popularity does not define what is true or what is good; (...) Far better to search within for one's values and goals."

Irvin D. Yalom, The Schopenhauer Cure. Harper Perennial, 2006, p. 138-9

quarta-feira, 6 de junho de 2012

As intermitências da morte (II)


 
E a morte se apaixona pelo violoncelista que ela veio buscar...

Com seu vestido novo comprado ontem numa loja do centro, a morte assiste ao concerto. Está sentada, sozinha, no camarote de primeira ordem, e, como havia feito durante o ensaio, olha o violoncelista. Antes que as luzes da sala tivessem sido baixadas, quando a orquestra esperava a entrada do maestro, ele reparou naquela mulher. Não foi o único dos músicos a dar pela sua presença. Em primeiro lugar porque ela ocupava sozinha o camarote, o que, não sendo caso raro, tão-pouco é frequente. Em segundo lugar porque era bonita, porventura não a mais bonita entre a assistência feminina, mas bonita de um modo indefinível, particular, não explicável por palavras, como um verso cujo sentido último, se é que tal cousa existe num verso, continuamente escapa ao tradutor. E finalmente porque a sua figura isolada, ali no camarote, rodeada de vazio e ausência por todos os lados, como se habitasse um nada, parecia ser a expressão da solidão mais absoluta. A morte, que tanto e tão perigosamente havia sorrido desde que saiu do seu gelado subterrâneo, não sorri agora. Do público, os homens tinham-na observado com dúbia curiosidade, as mulheres com zelosa inquietação, mas ela, como uma águia descendo rápida sobre o cordeiro, só tem olhos para o violoncelista. Com uma diferença, porém. No olhar desta outra águia que sempre apanhou as suas vítimas há algo como um ténue véu de piedade, as águias, já o sabemos, estão obrigadas a matar, assim lho impõe a sua natureza, mas esta aqui, neste instante, talvez preferisse, perante o cordeiro indefeso, abrir num repente as poderosas asas e voar de novo para as alturas, para o frio ar do espaço, para os inalcançáveis rebanhos das nuvens. A orquestra calou-se. O violoncelista começa a tocar o seu solo como se só para isso tivesse nascido. Não sabe que aquela mulher do camarote guarda na sua recém-estreada malinha de mão uma carta de cor violeta de que ele é destinatário, não o sabe, não poderia sabê-lo, e apesar disso toca como se estivesse a despedir-se do mundo, a dizer por fim tudo quanto havia calado, os sonhos truncados, os anseios frustrados, a vida, enfim. Os outros músicos olham-no com assombro, o maestro com surpresa e respeito, o público suspira, estremece, o véu de piedade que nublava o olhar agudo da águia é agora uma lágrima.

José Saramago, As intermitências da morte. São Paulo: Cia das Letras, p. 191-192

domingo, 3 de junho de 2012

As intermitências da morte

Apesar de tudo, a morte que agora se está levantando da cadeira é uma imperatriz. Não deveria estar nesta gelada sala subterrânea, como se fosse uma enterrada viva, mas sim no cimo da mais alta montanha presidindo aos destinos do mundo, olhando com benevolência o rebanho humano, vendo como ele se move e agita em todas as direcções sem perceber que todas elas vão dar ao mesmo destino, que um passo atrás o aproximará tanto da morte como um passo em frente, que tudo é igual a tudo porque tudo terá um único fim, esse em que uma parte de ti sempre terá de pensar e que é a marca escura da tua irremediável humanidade.

José Saramago, As intermitências da morte. São Paulo: Cia das Letras, 2005, p. 163.