quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Amar os outros

Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].

Clarice Lispector (1925-1977)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Eu levo o seu coração comigo

eu levo o seu coração comigo (eu o levo no
meu coração) eu nunca estou sem ele (a qualquer lugar
que eu vá, meu bem, e o que quer que seja feito
por mim somente é o que você faria, minha querida)

não tenho medo

da minha sina (pois você é a minha sina, minha doçura) eu não quero
nenhum mundo (pois linda você é meu mundo, minha verdade)
e é você que é o que quer que seja o que a lua signifique
e você é qualquer coisa que um sol vai sempre cantar

aqui está o mais profundo segredo que ninguém sabe
(aqui é a raiz da raiz e o botão do botão
e o céu do céu de uma árvore chamada vida, que cresce
mais alto do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder)
e isso é a maravilha que está mantendo as estrelas distantes

eu levo o seu coração (eu o levo no meu coração)

e. e. cummings (1894-1962)

Original em inglês:

i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)

i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart(i carry it in my heart)

e. e. cummings (1894-1962)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Café

Ethiopian shepherds
discovered coffee
when they realized
their goats began
to dance.

Michelle Ramadan

domingo, 25 de janeiro de 2009

Amor

nos isolaremos
como se isola
o som
que sai do
sax
de Charlie Parker
como atingem
o alto-mar
alguns navios
como se perdem
datas cabelos
amigos como se consomem
laranjas doçuras
jornais
como se destroem
vidas
edifícios
motoristas

Fabrício Corsaletti (1978-)

My Blueberry Nights

How do you say goodbye to someone you can't imagine living without? I didn't say goodbye. [pause] I didn't say anything. I just walked away.

Aos românticos de plantão: Vejam "My Blueberry Nights" (2007), traduzido no Brasil com o título "Um beijo roubado". Muito bom!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Moi, un écrivain?

J’ai envie d'être un écrivain de romans policiers. Je veux que mon détective soit un jeune homme silencieux, introspectif, mais qui aime toujours écouter les autres, analiser les comportements, les moeurs, observer attentivement les petites choses de la vie. Il sera aussi un amant de la littérature, de l’histoire, de la philosophie; il sera peut-être un historien, un académicien qui passe son temps libre en s’amusant avec les crimes des autres. Peut-être qu’il sera un investigateur de crimes passés, dont les suspects seront tous morts. Le problème c’est qu’on n’est pas en Angleterre, où il ya cette atmosphère de mystère raffinée qu’on retrouve toujours dans les aventures de Sherlock Holmes, Hercule Poirot et Adam Dalgliesh. Nous sommes au Brésil, un pays "grossier", avec des policiers grossiers, sans aucun charme, qui mangent mal dans des petits restaurants immondes avec des femmes du monde, des drogués, et qui sont parfois des bandits eux aussi, en participant des réseaux de traffic de drogues ou de mineurs prostituées; enfin, je veux devenir un écrivain de romans policiers, mais pas ici, au moins pas en utilisant un décor ou des personnages brésiliens. Mais comment pourrais-je écrire un livre avec un autre décor et d’autres acteurs? Je suis brésilien, peste! Mais l’idée d’écrire une histoire qui se passe à Minas au XVIIIe siècle reste encore dans ma tête. Mon détective sera peut-être un prêtre... Ça y est!! Mais il y aura encore le problème du language et du anachronisme... Il faut penser.

Belo Horizonte, le 19 octobre, 2000

Vagalumes no jardim

Here come real stars to fill the upper skies,
And here on earth come emulating flies,
That though they never equal stars in size,
(And they were never really stars at heart)
Achieve at times a very star-like start.
Only, of course, they can't sustain the part.

Robert Frost (1874-1963)

Recomendo o filme "Fireflies in the Garden" (Vagalumes no jardim), de 2008, traduzido no Brasil como "Um Segredo entre nós" (só não consegui descobrir que segredo é esse).

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Anaïs

“You live like this, sheltered, in a delicate world, and you believe you are living. Then you read a book (Lady Chatterley, for instance), or you take a trip, or you talk with Richard, and you discover that you are not living, that you are hibernating. The symptoms of hibernating are easily detectable: first, restlessness. The second symptom(when hibernating becomes dangerous and might degenerate into death): absence of pleasure. That is all. It appears like an innocuous illness. Monotony, boredom, death. Millions live like this (or die like this) without knowing it. They work in offices. They drive a car. They picnic with their families. They raise children. And then some shock treatment takes place, a person, a book, a song, and it awakens them and saves them from death. Some never awaken".

Anaïs Nin (1903-1977)

Liberty

"[...] last night during a concert I felt like Mary Rose in Barrie’s play, who hears music while visiting an island, walks away and disappears for twenty years. I felt that I could walk out of my house like a somnambulist, forgetting utterly all my connections and go forth into a new life. Each day there are more demands from me that deprive me of the liberty I need, Hugo growing demands of my body, Allendy’s demands on the noblest in me, Henry’s love, which makes me a submissive and faithful wife — all this, against the adventure I must constantly renounce and sublimate. When I am most deeply rooted, I feel the wildest desire to uproot myself".

Anaïs Nin (1903-1977) Henry and June

O Escafandro e a Borboleta

Filme fascinante, maravilhoso! É a história real de Jean-Dominique Bauby, o poderoso editor da revista francesa Elle (ver post a seguir).

Jean-Dominique Bauby

Em 1995, Jean-Dominique Bauby, jornalista francês e redator-chefe da famosa revista Elle, sofreu, aos 43 anos de idade, um grave acidente vascular cerebral. Vítima de anartria - perda da articulação das palavras - e de paralisia física total, causadas pela síndrome do encarceramento (locked-in syndrome), Bauby permaneceu literalmente preso dentro de si próprio durante 15 meses, num estado de mutismo, imobilizado e sem forças. A pálpebra do olho esquerdo era a única parte do seu corpo capaz de mover-se. Essa prisão (expressa na imagem do escafandro) não lhe impedia a plena consciência (simbolizada pela borboleta), terrível condição de quem sofre dessa raríssima síndrome. No hospital, dependente em todos os sentidos, Bauby tomou a decisão inesperada de escrever um livro. A única forma de realizar esse projeto consistia em ditar letra por letra, recorrendo a um código criado para a comunicação entre o "escafandrista" e o mundo exterior: o código da pálpebra. O resultado desse árduo trabalho foi o livro Le Scaphandre et le Papillon (publicado em 1997), do qual se originou o excelente filme dirigido por Julien Schnabel em 2007 (ganhador de 2 Globos de Ouro, além de um prêmio no Festival de Cannes e 4 indicações ao Oscar).
Jean-Dominique Bauby faleceu em 1997, alguns meses depois da publicação do livro.

Gabriel Perissé

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Herança paterna

Não nasci sem pai:
ele esperou até que eu nascesse.

Depois,
ao constatar o sexo frágil
de sua quarta frágil-filha-mulher,
ele, o homem forte,
se foi.

Como herança,
deixou-me esta aptidão
para vôos interrompidos:

eterno fugir
de onde nunca estivemos.

Sônia Barros (1968-)

Barcos e portos

Vão resistir alguns subúrbios
das lembranças, na escuridão.

Um rosto de arquivo morto
que a nada se relaciona;

certo abraço de amor
sem nenhum sexo;

um gole d'água,
a sede que o iluminava

mais que o sol daquela outra
manhã também casual;

o acorde de uma música
não eleita;

o de outra, amada;
o pátio, na sombra

que o verso viu
e nunca povoou;

palavras soltas;
talvez dor;

e o que é de barcos e portos,
partir, chegar.

Jorge Wanderley (1938-1999)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Happiness

So early it's still almost dark out.
I'm near the window with coffee,
and the usual early morning stuff
that passes for thought.

When I see the boy and his friend
walking up the road
to deliver the newspaper.

They wear caps and sweaters,
and one boy has a bag over his shoulder.
They are so happy
they aren't saying anything, these boys.

I think if they could, they would take
each other's arm.
It's early in the morning,
and they are doing this thing together.

They come on, slowly.
The sky is taking on light,
though the moon still hangs pale over the water.

Such beauty that for a minute
death and ambition, even love,
doesn't enter into this.

Happiness. It comes on
unexpectedly. And goes beyond, really,
any early morning talk about it.

Raymond Carver (1938-1988)

Eu primeiro

Se você quer saber como é a natureza básica do ser humano, basta observar crianças de dois anos em ação. Seu caráter pode ser resumido em duas palavras: "Eu primeiro."

Isso até é gracioso em criancinhas, mas fica um tanto repulsivo em alguém com cinqüenta anos.

Passei minha carreira lidando com executivos que são verdadeiras "crianças grandes". Por trás de todos os truques de estilo - charme, perspicácia, inteligência e um belo terno Armani - está uma criança mimada batendo o pé: "Eu primeiro, e você que se dane!"

Esse é um dos estranhos e belos paradoxos da vida. Quando rompemos com o "eu" e nos empenhamos em atender as legítimas necessidades dos outros, nossas carências também são satisfeitas.

Se desejamos nos tornar líderes eficazes e seres humanos melhores, precisamos superar esse problema do "eu primeiro". Precisamos amadurecer. Quando nos candidatamos a ser o líder, as necessidades das outras pessoas tornam-se a coisa mais importante na escala de prioridades. Não por acaso, no serviço militar dos Estados Unidos, os soldados comem primeiro, os oficiais depois.

HUNTER, James C. In: The World's Most Powerful Leadership Principle (2004).

Primeiro entre iguais

"Minha mãe me ensinou que posições e títulos não significam absolutamente nada. São apenas adornos, não representam a substância de uma pessoa. Ela me ensinou também que qualquer pessoa, ou emprego, vale tanto quanto qualquer outra pessoa ou emprego."

Herb Kelleher, fundador da Southwest Airlines.

Humildade e Liderança

Humildade, assim como amor, é uma palavra que tem sido distorcida em seu uso. Como seu oposto é arrogância, vaidade ou orgulho, muitas pessoas associam erradamente humildade com passividade, modéstia ou até mesmo com baixa auto-estima ("tenham pena de mim").

Muito pelo contrário. Os líderes humildes não sofrem nenhum complexo de inferioridade. Eles sabem que não têm todas as respostas e aceitam isso com naturalidade. Quando atingidos em sua escala de valores, princípios morais e senso de justiça, podem ser tão destemidos quanto um leão.

Os líderes humildes não se iludem sobre quem eles realmente são. Eles sabem que vieram ao mundo sem nada e que partirão sem nada e, por isso mesmo, aprenderam a se controlar e a não ser egoístas.

Sua disposição para ouvir as opiniões dos outros, mesmo que sejam opiniões contrárias, mostra que esse tipo de liderança não procura o crédito e adulação para si mesma - daí sua capacidade de rir de si mesma e do mundo.

Para o crítico inglês John Ruskin, "os homens realmente grandes possuem o curioso sentimento de que a grandeza não está neles, mas passa por eles. Por isso são humildes".

Já conheci muitas pessoas em posições de liderança que são incapazes de dizer coisas como "Não sei", "O que você acha?", "Desculpe, eu estava enganado" ou "Você se saiu muito melhor do que eu seria capaz". Depois de conhecê-las mais a fundo, descubro que elas se sentem inseguras e desconfortáveis com o que são.

No livro Empresas feitas para vencer, Jim Collins descreve o mais alto nível de desempenho de liderança, que ele classifica de Nível 5: "Os líderes do Nível 5 incorporam uma mistura paradoxal de humildade pessoal e vontade profissional. São ambiciosos, sem dúvida, mas ambiciosos em primeiro lugar e acima de tudo pela empresa, não por si mesmos".

Os líderes humildes consideram sua liderança uma enorme responsabilidade e levam muito a sério a posição de confiança e as pessoas a eles confiadas. Seu foco não está nos benefícios corporativos nem na politicagem interna, muito menos na corrida para ver quem vai ocupar a sala maior. Eles preferem se concentrar nas responsabilidades inerentes à liderança.

Autênticos, eles não posam de sábios, estão sempre disponíveis e, de certa forma, vulneráveis, porque têm seu ego sob controle e não se baseiam em ilusões de grandeza, acreditando que são indispensáveis para a empresa. Sabem muito bem que os cemitérios estão repletos de pessoas indispensáveis.

Seguros de suas forças e limitações, os líderes humildes estão conscientes de que o maior de todos os defeitos é acreditar que não cometeram erro algum.

Os líderes humildes são capazes de manter as coisas em sua devida perspectiva.

HUNTER, James C. The World's Most Powerful Leadership Principle (2004)

domingo, 18 de janeiro de 2009

A Festa de Babette

"Quem pensa que a comida só faz matar a fome está redondamente enganado. Comer é muito perigoso. Porque quem cozinha é parente próximo das bruxas e dos magos. Cozinhar é feitiçaria, alquimia. E comer é ser enfeitiçado. Sabia disso Babette, artista que conhecia os segredos de produzir alegria pela comida. Ela sabia que, depois de comer, as pessoas não permanecem as mesmas. Coisas mágicas acontecem. E desconfiavam disso os endurecidos moradores daquela aldeola, que tinham medo de comer do banquete que Babette lhes preparara. Achavam que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. No que eles estavam certos. Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles imaginavam. Achavam que Babette iria pôr suas almas a perder. Não iriam para o céu. De fato, a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos maravilhosos, o prazer amaciando os sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso, in vino veritas... Está tudo no filme A Festa de Babette. Terminado o banquete, já na rua, eles se dão as mãos numa grande roda e cantam como crianças... Perceberam, de repente, que o céu não se encontra depois que se morre. Ele acontece em raros momentos de magia e encantamento, quando a máscara-armadura que cobre o nosso rosto cai e nos tornamos crianças de novo. Bom seria se a magia da Festa de Babette pudesse ser repetida..."

Rubem Alves

O Invasor

Filme excelente!
Isso é Brasil!

Nelson Rodrigues

Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas.

O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: — um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.

Em nosso século, o "grande homem" pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.

O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.

Nelson Rodrigues (1912-1980)

Cogito

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível


eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora


eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim


eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.

Torquato Neto (1944-1972)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Heights

Traduzido no Brasil como "Por conta do destino", esse filme americano de 2005 é surpreendente! Muito bom!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Canção na Plenitude

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

Lya Luft

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

À BH

Mon frère est ici. Il a 19 ans. Nous sommes tous les trois ici: mon frère, ma soeur et moi, sans papa et sans maman: des adultes à demi perdus dans cette ville où tous les jours, quoique il soit beau et lumineux, je me sens enveloppé par une atmosphère de terreur, d’angoisse, de tristesse. J’ai peur ici. Il faut écrire ma thèse, il faut aller au médicin, il faut lutter pour vivre. Mon père ne peut plus nous soutenir comme il faisait avant. J’ai besoin d’une bourse qui n’arrive pas: et j’ai peur qu’elle n’arrivera jamais.

Non. Il faut absolument que j’arrête de dire ces choses. Il faut être optimiste. Je suis bien. Je fais ce que je veux, j’ai une femme qui m’aime, nous sommes heureux. Il faut remercier à Dieu de cette vie que j’ai. Ce n’est pas une vie de merde. Aujourd’hui même j’ai acheté deux livres et j’ai prêté de l’argent au portier. Je n’ai pas de bourse et je depense de l’argent quand même. Et je suis bien, parce que j’ai deux livres de plus et j’ai fait, avec ma générosité, un ami.

La semaine prochaine je serai à Diamantina. Tout sera payé par le CEDEPLAR-UFMG, parce que j’y vais présenter un travail. Ça sera super! Je veux connaître cette ville depuis longtemps, l’ancien Tejuco, le village des diamants où habitait Chica da Silva, la négresse de João Fernandes, et où le pouvoir de la Couronne Portugaise s’est montré plus puissant, plus violent, malgré les conflits.

Belo Horizonte, le 22 août, 2000.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Computadores

Me separé de mi segunda mujer, Corinne, treinta y seis años, francesa nacida en Lille, empleada de Seguros Mapfre, agencia Place de Clichy, después de un bochornoso episodio que no sé si me atreva a contar. En fin, haré un esfuerzo. Un día regresé a la casa antes de la hora habitual, pues por una extraña huelga del sindicato de limpiadores, el club de ajedrez del barrio XIV, en el que juego dos tardes por semana, estaba cerrado. Así que llegué, dejé los zapatos en la entrada para no rayar el parquet (exigencia de Corinne) y me serví un vaso de leche descremada para acompañarla con galletas dulces de bajo contenido calórico.

Con el vaso en la mano caminé hacia el estudio, atraído por la música, esperando ver qué hacía Corinne, queriendo sorprenderla o las dos cosas, y al mirar por la puerta entreabierta la vi de espaldas. Pero no me atreví a saludarla, pues noté que estaba en una posición extraña. Curioso. Entonces empujé un poco la puerta y vi el computador encendido. ¿Qué hacía? Se había bajado los pantalones hasta las rodillas y tenía el calzón a la mitad del muslo, con los audífonos puestos. Me acerqué por detrás, dispuesto a darle un golpecito pícaro en el hombro y decirle: "Aquí me tienes, cariño, ¡estoy listo!", cuando vi entre sus piernas una de esas cámaras que se conectan a los computadores. En un acto reflejo levanté la vista y observé la pantalla, cosa que hasta ahora no había hecho, y por poco pego un grito, pues en el cuadrado central había una horrible verga negra de venas hinchadas, y por supuesto una mano que la acariciaba. Una mano, por cierto, con los dedos cubiertos de anillos. Al lado estaban las últimas frases que intercambiaron por escrito antes de bajarse los pantalones y pasar a los micrófonos, y allí, para mi vergüenza, leí de reojo lo siguiente: "Quiero esa verga caliente en mi boca, pisotéame, sodomízame." Sentí una oleada de rabia, pero en ese instante la escuché suspirar, a pesar de los auriculares, era increíble que no notara mi presencia. Se estaba empezando a venir, así que retrocedí. Luego gritó algo que no alcancé a escuchar y, en ese preciso instante, terminó el disco, que para el detalle era El sombrero de tres picos, de Manuel de Falla.

Desconcertado salí de la casa, volví a entrar como si nada y caminé silbando por el corredor. «Corinne, chérie, ¿estás en la casa?» Ella saludó desde el estudio, "¡Aquí estoy, amor! En un momento vengo a saludarte." Yo grité desde la cocina que no había podido jugar al ajedrez porque había huelga de limpiadores, y ella, desde adentro, respondió que lástima, pero que mejor así, pues eso nos permitiría cenar más temprano y ver algunas de las películas de video que habíamos alquilado en Blockbuster. Luego agregó: "Espera salgo de Internet, estoy loca con la investigación ésta sobre las legislaciones de pólizas en Europa." Corinne, ya lo dije, era agente de seguros.

Al verla acercarse me derrumbé; por ello debí hacer un esfuerzo sobrehumano que, dicho sea de paso, hizo arder mi úlcera para mostrarme civilizado, cauto, parisino.

Santiago Gamboa (escritor colombiano), Los Impostores

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

— Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira (1912)

Messy Room

Whosever room this is should be ashamed!
His underwear is hanging on the lamp.
His raincoat is there in the overstuffed chair,
And the chair is becoming quite mucky and damp.
His workbook is wedged in the window,
His sweater's been thrown on the floor.
His scarf and one ski are beneath the TV,
And his pants have been carelessly hung on the door.
His books are all jammed in the closet,
His vest has been left in the hall.
A lizard named Ed is asleep in his bed,
And his smelly old sock has been stuck to the wall.
Whosever room this is should be ashamed!
Donald or Robert or Willie or--
Huh? You say it's mine? Oh, dear,
I knew it looked familiar!

Shel Silverstein (1981)

L'horloge

Horloge ! dieu sinistre, effrayant, impassible,
Dont le doigt nous menace et nous dit : " Souviens-toi !
Les vibrantes Douleurs dans ton coeur plein d'effroi
Se planteront bientôt comme dans une cible,

Le plaisir vaporeux fuira vers l'horizon
Ainsi qu'une sylphide au fond de la coulisse ;
Chaque instant te dévore un morceau du délice
A chaque homme accordé pour toute sa saison.

Trois mille six cents fois par heure, la Seconde
Chuchote : Souviens-toi ! - Rapide, avec sa voix
D'insecte, Maintenant dit : Je suis Autrefois,
Et j'ai pompé ta vie avec ma trompe immonde !

Remember ! Souviens-toi, prodigue ! Esto memor !
(Mon gosier de métal parle toutes les langues.)
Les minutes, mortel folâtre, sont des gangues
Qu'il ne faut pas lâcher sans en extraire l'or !

Souviens-toi que le Temps est un joueur avide
Qui gagne sans tricher, à tout coup ! c'est la loi.
Le jour décroît ; la nuit augmente, souviens-toi !
Le gouffre a toujours soif ; la clepsydre se vide.

Tantôt sonnera l'heure où le divin Hasard,
Où l'auguste Vertu, ton épouse encore vierge,
Où le repentir même (oh ! la dernière auberge !),
Où tout te dira : Meurs, vieux lâche ! il est trop tard ! "

Charles Baudelaire (1821-1867)

sábado, 3 de janeiro de 2009

Adeus, Lênin

Filme sensacional! O fim do comunismo na Alemanha Oriental numa perspectiva muito interessante. Produção alemã nota 10.
Auf wiedersehen...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

La Ciénaga

La Ciénaga (O Pântano) é um filme perturbador, diferente de tudo o que eu já tinha visto. Produzido na Argentina em 2000, foi premiado no Festival de Berlim e recebido pela crítica como "obra-prima".
A seguir, o comentário que, na minha opinião, melhor descreve e analisa esse filme difícil de ser descrito e analisado:

La Ciénaga, directed by first-timer Lucrecia Martel, uses a seemingly uneventful series of episodes and an atmospheric sense of impending doom to make a statement about the decadence of the Argentine middle class. The decaying families are portrayed without much sympathy, showing them as racist, uncaring, and self-indulgent.

The screen veritably pulsates with life and ugliness. Every frame is filled with children and animals running in and out, dogs barking, everyone talking at the same time, music blaring, and the TV bellowing something about Virgin Mary sightings. It's almost as if the camera is eavesdropping on an intimate family gathering, making the viewer feel like an uninvited guest at a party.

The narrative (such as it is) is about two families and their children thrown together at the end of a stifling hot summer, and how everybody bears the marks of carelessness and inattention: scars, burns, bruises. Nothing works in this milieu; the pool is very dirty, one boy has lost one eye, another is afraid of stories about dog-rats, drinking is excessive and accidents result as a consequence.

The mother (Mecha) is a drunk who just seems to be waiting for the end to face life in bed for 20 years like her own mother. She makes racist remarks directed toward her servant, yells at her own daughter Momi, (who seems to be infatuated with the servant), and makes vague plans to go to Bolivia to buy school supplies for the kids.


La Cienaga is not easy to watch. It is moody, sensual, atmospheric, almost unbearably intimate, with a constant level of anxiety and tension. You can feel the humidity building on your forehead. Danger is always near, and violence seems not just possible but probable. There is an unspoken longing for something, anything good to happen to relieve the emptiness of life. I was reminded of Chekhov and Dostoyevsky. It is almost Bunuelian in its feeling but, unlike Bunuel, it is not dark comedy, just dark.

The unspoken backdrop is the recent history of Argentina, an unending nightmare of political violence, social unrest, and fiscal disaster. Only the children give us any hope for the future. It is a compelling picture of class arrogance with an ending as moving as any I've seen. Strongly recommended but bring a lot patience and a de-humidifier.

The Internet Movie Database.