domingo, 23 de dezembro de 2007

Grandes filmes

A excêntrica família de Antônia (1995, de Marllen Gorris)
O sétimo selo (1957, de Ingmar Bergman)
Fanny e Alexander (1982, de Ingmar Bergman)
A insustentável leveza do ser
Tudo sobre minha mãe (de Pedro Almodóvar)
Fale com ela (de Pedro Almodóvar)
Má educação (de Pedro Almodóvar)
Volver (Voltar, de Pedro Almodóvar)
Matrix
Beleza Americana
Alta Fidelidade (de Stephen Frears)
The Doors (de Oliver Stone)
Noivo neurótico, noiva nervosa (1977, de Woody Allen)
Igual a tudo na vida (de Woody Allen)
Hannah e suas irmãs (1987, de Woody Allen)
Match Point (de Woody Allen)
Janela Indiscreta (1954, de Alfred Hitchcock)
Um corpo que cai (1958, de Alfred Hitchcock)
Disque M para matar (1953, de Alfred Hitchcock)
A Festa de Babette
Cidade de Deus
A Queda - as últimas horas de Hitler
Oito mulheres
A janela da frente
A vida de David Gale (de Alan Parker)
Batismo de sangue
Testemunha de Acusação (1957)
Morte no Nilo (1978)

Alguns livros que me marcaram


Literatura Brasileira

Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (Rubem Fonseca)

Bufo & Spallanzani (Rubem Fonseca)

Romance Negro (Rubem Fonseca)

Feliz Ano Novo (Rubem Fonseca)

Encontro Marcado (Fernando Sabino)

Coiote (Roberto Freire)

O Sorriso do Lagarto (João Ubaldo Ribeiro)

O Retrato do Rei (Ana Miranda)

Chatô, o rei do Brasil (Fernando Morais)

Olga (Fernando Morais)


Literatura estrangeira (traduções)

As Brumas de Avalon – 4 v. (Marion Zimmer Bradley)

Cem anos de solidão (Gabriel García Márquez)

A Náusea (Jean Paul Sartre)

A Idade da Razão (Jean Paul Sartre)

Morte na praia (Agatha Christie)

O caso dos dez negrinhos (Agatha Christie)

Os cinco porquinhos (Agatha Christie)

Uma Certa Justiça (P. D. James)

O Exorcista (Willian Peter Blaty)

O Grande Gatsby (F. S. Fitzgerald)



Literatura especializada (Ciências Humanas)

Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi (José Murilo de Carvalho)

Desenvolvimiento de la ciudadanía en Brasil (José Murilo de Carvalho)

O queijo e os vermes (Carlo Ginzburg)

Raízes do Brasil (Sérgio Buarque de Holanda)

Casa Grande & Senzala (Gilberto Freyre)

Formação do Brasil contemporâneo (Caio Prado Jr.)

O espelho de Próspero (Richard Morse)

O Grande Massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa (Robert Darnton)

O Príncipe (N. Maquiavel)

Guerreiros e camponeses (Georges Duby)


Literatura infanto-juvenil

A Mina de Ouro (Maria José Dupré)

A Ilha Perdida (Maria José Dupré)

O Escaravelho do diabo (Lúcia Machado de Almeida)

A Morte tem sete herdeiros (Stella Carr e Ganymèdes José)

O Mistério do cinco estrelas (Marcos Rey)

Sozinha no mundo (Marcos Rey)

Um cadáver ouve rádio (Marcos Rey)

O enigma do autódromo de Interlagos (Stella Carr)

Estranhas luzes no bosque (Stella Carr)

O segredo do Museu Imperial (Stella Carr)


Literatura estrangeira (originais)

El amor en los tiempos del cólera (Gabriel García Marquez)

Les trois mousquetaires (Alexandre Dumas)

Le comte de Monte-Cristo (Alexandre Dumas)

La Reine Margot (Alexandre Dumas)

La casa de los espíritus (Isabel Allende)

La vida exagerada de Martín Romaña (Alfredo Brice Echenique)

Unnatural Causes (P. D. James)

Death of an expert witness (P. D. James)

Gulliver’s travels (Jonathan Swift)

Simisola (Ruth Rendell)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Enivrez-vous

Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.

Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.

Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: "Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."

Charles Baudelaire [1821-1867]


domingo, 16 de dezembro de 2007

Passeio Socrático

Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. "Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse. O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população nos submete ao consumo de símbolos.

O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável. [...]

Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos "Manuscritos econômicos e filosóficos" (1844), ele constata que "o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós." O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão. [...]

Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.

Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela, mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc. [...]

Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. "Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático, respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

Frei Beto

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

J'accuse

Um dos mais ruidosos casos de erro judicial da história moderna da França envolveu Alfred Dreyfus (1859-1935), capitão do estado-maior geral do exército francês, numa acusação de espionagem em favor da Alemanha, por terem sido encontrados documentos com a sua caligrafia falsificada junto ao adido militar alemão em Paris. Foi, por isso, condenado à prisão perpétua na ilha do Diabo, na costa da Guiana Francesa. Em 1898, foram descobertas evidências de sua inocência e da culpa do major francês Esterhazy, espia alemão. Mas o segundo julgamento manteve o resultado do primeiro, provocando a indignação do escritor Émile Zola [foto acima] (1840-1902) que escreveu uma carta aberta ao presidente da França intitulada J’Accuse para denunciar a farsa. O escândalo dividiu a opinião pública entre dreyfusards (a esquerda progressista) e anti–dreyfusards (a direita conservadora), e surgiram fortes ataques anti–semitas por parte da direita, e anti–clericais, à esquerda — por ser Dreyfus judeu e a Igreja ligada ao Estado. Os debates arrastaram–se por mais oito anos, até o capitão ser totalmente inocentado, em 1906, tendo os jornais aproveitado do fato para fazer sensacionalismo.
A seguir segue o trecho final da carta aberta endereçada ao presidente da França, escrita pelo autor de
Germinal, Émile Zola, em 1898. Se os escritores e intelectuais brasileiros tivessem a mesma coragem [o que não é o caso], teríamos, nos jornais do Brasil, dez J'accuse por dia:

[...] J'accuse le lieutenant-colonel du Paty de Clam d'avoir été l'ouvrier diabolique de l'erreur judiciaire, en inconscient, je veux le croire, et d'avoir ensuite défendu son oeuvre néfaste, depuis trois ans, par les machinations les plus saugrenues et les plus coupables.

J'accuse le général Mercier de s'être rendu complice, tout au moins par faiblesse d'esprit, d'une des plus grandes iniquités du siècle.

J'accuse le général Billot d'avoir eu entre les mains les preuves certaines de l'innocence de Dreyfus et de les avoir étouffées, de s'être rendu coupable de ce crime de lèse-humanité et de lèse-justice, dans un but politique et pour sauver l'état-major compromis.

J'accuse le général de Boisdeffre et le général Gonse de s'être rendus complices du même crime, l'un sans doute par passion cléricale, l'autre peut-être par cet esprit de corps qui fait des bureaux de la guerre l'arche sainte, inattaquable.

J'accuse le général de Pellieux et le commandant Ravary d'avoir fait une enquête scélérate, j'entends par là une enquête de la plus monstrueuse partialité, dont nous avons, dans le rapport du second, un impérissable monument de naïve audace.

J'accuse les trois experts en écritures, les sieurs Belhomme, Varinard et Couard, d'avoir fait des rapports mensongers et frauduleux, à moins qu'un examen médical ne les déclare atteints d'une maladie de la vue et du jugement.

J'accuse les bureaux de la guerre d'avoir mené dans la presse, particulièrement dans l'Éclair et dans L'Echo de Paris, une campagne abominable, pour égarer l'opinion et couvrir leur faute.

J'accuse enfin le premier conseil de guerre d'avoir violé le droit, en condamnant un accusé sur une pièce restée secrète, et j'accuse le second conseil de guerre d'avoir couvert cette illégalité, par ordre, en commettant à son tour le crime juridique d'acquitter sciemment un coupable.

En portant ces accusations, je n'ignore pas que je me mets sous le coup des articles 30 et 31 de la loi sur la presse du 29 juillet 1881, qui punit les délits de diffamation. Et c'est volontairement que je m'expose.

Quant aux gens que j'accuse, je ne les connais pas, je ne les ai jamais vus, je n'ai contre eux ni rancune ni haine. Ils ne sont pour moi que des entités, des esprits de malfaisance sociale. Et l'acte que j'accomplis ici n'est qu'un moyen révolutionnaire pour hâter l'explosion de la vérité et de la justice.

Je n'ai qu'une passion, celle de la lumière, au nom de l'humanité qui a tant souffert et qui a droit au bonheur. Ma protestation enflammée n'est que le cri de mon âme. Qu'on ose donc me traduire en cour d'assises et que l'enquête ait lieu au grand jour ! J'attends.

Veuillez agréer, monsieur le Président, l'assurance de mon profond respect.

Émile Zola, 13 janvier 1898